quinta-feira, 27 de junho de 2013

Que pena, Jonathas, que não pudemos te dar um país com uma polícia menos violenta


Jonathas, o lindo menino da esquerda na foto acima, foi um dos 10 mortos pela ação violenta da polícia na Maré. Tomo a liberdade de partilhar aqui o depoimento comovente de Yvonne Bezerra de Mello, que trabalhou com ele no Projeto Uerê:

"O nosso Jonathan, de 15 anos era um deles. Nunca teve passagem pela policia. Não podia esperar outra coisa. Era um menino educado com muito amor por nós. Ele sofreu muito, perdendo a mãe muito cedo e não tendo para onde ir. O Uerê sempre foi um esteio na vida dele. Quase nenhum dos nossos alunos se mete em confusões. O que ele queria era viver sua juventude com dignidade. 

Ele era só um menino pardo e pobre como todos os 176.000 como ele assassinados nesse país nas ultimas 3 decadas. São 6.000 jovens por ano que morrem nas mãos da policia ou de bandidos.
 

Jonathan não conseguiu perseguir o seu sonho de ser mecânico. Uma bala do BOPE tirou sua vida num raid violentissimo na Maré. A minha lista pessoal de crianças assassinadas durante as ultimas 3 decadas já passa dos 120 fora os da Candelaria. Antes desse foi o Matheus, 9 anos, assassinado com 2 baas por dois PMs na porta de casa.

Quem liga? Escrevi para a ONU, OEA, Comissões de direitos humanos, enfim, para muita gente. Aqui no Rio, só quem ligou foi o Marcelo Freixo que nos ajudou a enterra-lo.
Amanhã vou escrever de novo para as organizações internacionais e gravar um video sobre o que eu penso da violência no Brasil. Não esmorecer nunca, esse é o meu mote."


Que pena, Jonathas, que não pudemos te dar um país com uma polícia menos violenta

Eu tenho medo de vândalos - principalmente dos vândalos de farda

Outro dia escrevi aqui que não tinha medo de vândalos. Venho me retratar. Eu tenho sim medo de vândalos - dos de farda e dos sem farda.

Como o MPL (Movimento Passe Livre), mudei de ideia sem vergonha alguma: voltei a protestos. Em parte, porque sinto que eles estão de fato mexendo com nossos dirigentes, mas, principalmente, porque estão mexendo conosco. Não sei você, mas nunca vi debates tão profundos e sensatos na minha timeline do Facebook. Como ouvi da amiga jornalista Érica Montenegro recentemente, "a grande vitória das ruas é mostrar que quem está em gabinete também tem patrão".

Com o hábito de refletir voltando à moda, sugiro uma nova provocação.

Quero começar dizendo que amo Brasília, cidade belíssima e cheia de obras de arte ao céu aberto. Parte-me o coração ver uma beleza como a Catedral ser pichada e depredada, principalmente após uma reforma que custou dinheiro público e durou dois anos. O mesmo vale para o Itamaraty. E declaro, também, que repudio o vandalismo.

Vandalismo, porém, também veste farda, já pensaram nisso? Afinal que outro nome daríamos a atirar bombas de gás lacrimogênio contra hospitais, como ocorreu no Rio de Janeiro? Ou dispersar uma multidão de manifestantes pacíficos com gases que podem matar, como parece ter virado praxe em Brasília? Ou atirar contra repórteres, como em São Paulo? Ou, pior ainda, intimidar, torturar e matar moradores de comunidades pobres do Rio?

Só o que peço aqui é um pouco de bom senso. A farda não blinda ninguém contra o adjetivo de vândalo, arruaceiro ou criminoso.






quarta-feira, 26 de junho de 2013

Razões para ser a favor do auxílio reclusão

Vamos evitar incompreensões. Listo aqui as razões pelas quais todo mundo devia ser a favor do "auxílio" reclusão:

1) O "auxílio" não é dado ao preso, mas à sua família.

2) O "auxílio" não é uma compensação pelo crime, mas uma maneira de tentar evitar que, abandonados pelo pai e/ou mãe, os filhos caiam também na criminalidade.

3) O "auxílio" não é auxílio coisíssima nenhuma, uma vez que o dinheiro não sai dos cofres públicos, mas da contribuição dada pelo próprio preso, antes de ser preso, ao INSS.

4) Os filhos são, em muitos casos, as primeiras vítimas do comportamento violento/criminoso dos pais.

5) É um investimento em segurança pública, na medida em que previne que os filhos de criminosos se tornem criminosos.

6) É um "auxílio" social inteligente.

7) Você se beneficia com isso, na medida em que esse dinheiro é usado para conter a violência e a criminalidade, em vez de combatê-la depois que ocorre.

8) Renan Calheiros é contra o auxílio reclusão. Será que isso já não te deixa suspeito o suficiente?

Para quem quiser ler as regras em detalhes: http://www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nunca pensei que usaria este blog para isso

Sim, eu nunca pensei que usaria este blog para escrever qualquer coisa além de denunciar a bagunça que é nosso sistema carcerário. No fim, achei que era muito bom que eu usasse este espaço. Mais do que nunca, é preciso saber quem está falando. E quem vos fala é alguém que acredita que todos os seres humanos devem ser tratados com dignidade independentemente de seus erros. E como nós tratamos nossos infratores diz muito mais sobre nós do que sobre eles.

Dito isso, se você não concorda, vá embora. Provavelmente você é exatamente o tipo de pessoa que estragou esse movimento bonito no qual eu acreditava. E, não, não estou falando dos vândalos. Vândalos não me dão medo. O que me dá medo são os cartazes. É você que segurou uma placa pedindo a dissolução do Congresso e o impeachment da presidenta. Sim, meu povo, porque o Congresso não é nossa vergonha, mas nosso orgulho. Nós os elegemos e eles são o símbolo da democracia, assim como os partidos políticos. Nossa vergonha é a corrupção, isso sim. Impeachment não é palavra para gastar à toa, porque você não gosta do Bolsa Família. Responsabilidade: temos que manter nossa democracia estável.

Eu tenho medo é de você que gritou contra as cotas para alunos de escolas públicas, que pediu mais religião na política, que escreveu que Bolsa Família sustenta vagabundo, que ficou dançando capoeira e cantando o hino nacional como se isso fosse uma grande Copa do Mundo fora do estádio. Democracia não é brincadeira. Mensagens nacionalistas podem facilmente descambar para o fascismo.

E é por isso que me retiro dos protestos, muito triste. Eles não me representam mais. Essas bandeiras vazias - ou pior, cheias de conteúdos conservadores- não representam meus anseios por um país mais igualitário, em que o pobre more em Higienópolis, Jardins e no Plano Piloto, ou ao menos tenha transporte público acessível para usufruir da sua cidade, no centro. Não refletem meu desejo de ver abertas as contas do Mané Garrincha, estádio mais caro da Copa e claramente superfaturado.

O Congresso me representa. Quem não me representa são vocês que estão destruindo nosso lindo movimento.