– Sabe, Heidi, eu escuto tantas histórias. As presas sempre se justificam, e eu fico sem saber quando posso acreditar.
– Quando pode acreditar totalmente? Nunca. Existem muitas verdades no mundo: a verdade da presa, a verdade do juiz, a verdade da vítima. E não é que ela está mentindo, mas é que na cabeça dela aquilo é verdade. É a verdade da qual ela se convenceu.
Outro dia tive uma conversa que achei fascinante, com uma moça que está respondendo por sequestro. Ela disse:
“Não, eu tenho fé que vou embora quando chegar o julgamento.”
“Por quê?”
“Porque eu já estou há sete meses aqui, mas eu não fiz o sequestro.”
“Qual foi sua parte, então?”
“Ah, eu dei café da manhã, às vezes falava com a vítima, mas ela não pode me reconhecer.”
Claro que podia, reconhecer a voz, o corpo. “Mas eu não sequestrei”, ela dizia. Porque, na cabeça dela, o sequestro aconteceu na hora que pegaram a mulher e colocaram no cativeiro. E eu falei:
“Mas a mulher ficou quanto tempo com vocês?”
“Seis meses.”
“Você percebe que essa mulher vai carregar isso para o resto da vida? E que a família também ficou traumatizada por seis meses sem saber nada dela? Você tem filhos?”
“Tenho.”
“E se alguém fizesse isso com um dos seus filhos?”
“Ah! Eu me mataria.”
E quer saber? Ainda assim se achava inocente do sequestro.
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